Painel das fêmeas
 
A mulher jaz do meu lado 
e de mãos dadas 
somos finalmente felizes 
felizes além da vida 
a vida pelo amor 
 
a nossa consaguinidade 
sob a aureola da paixão 
a pérola dela 
que mastiga meus pensamentos 
e me atrevo chegar ao seu trono 
súdito sem cetro do seu querer 
inculto fiel da imagem dela 
 
a quem seria dado 
a permissão de lhe desposar 
que plebeu afortunado 
alcançaria sua majestade 
e renunciando o reinado 
seria apenas seu amante 
um rei destronado 
entronizado apenas pelo amor 
 
A mulher jaz do meu lado 
é quase de manhã 
e a nossa distância cislunar 
no que pese ser feliz 
ainda sinto seu cheiro quente 
seu repouso incólume 
depois da entrega dos corpos 
sem condenação inquisitorial 
sem gravidez rejeitada 
sem perseguição de sicários 
dorme sem saber Heloisa 
sem a despedida de Tzvetaeva 
pelos vitrais dos sonhos 
no prima de turmalina 
a deusa mulher 
que jaz do meu lado 
 
Seu corpo modelado 
sua ferida santa e viva 
seu jeito grácil 
o milagre da prodigalidade 
seu belo rosto 
feliz semblante de Thereza 
a viúva bela 
mais bela sem par 
seu nome endereçado 
o seu condão 
o seu sexo desejado 
sua graça e seu feitio 
 
A mulher jaz do meu lado 
e insulto primeiro afeto 
o seio embaixo da blusa 
as mãos ungidas pelo prazer 
a boca dos desejos que não se dizem 
o corpo de tão puro recheio 
– os maus pensamentos de Moliére repousam na minha cabeça 
 
Minhas mãos resvalam e apalpo e enlevo 
pelo evasé de sua saia bandô 
as coxas grossas, roliças 
a anca macia 
a vulva 
fulvas redondas 
remexe o quadril 
a minha intemperança 
a minha concupiscência 
hei de vê-la ferver no molde exato 
a dar o que me falta 
coisa feita de coisas que não se dizem 
seu olhar lânguido na avareza do querer 
endemoninhando minha sede 
bebo na sua boca a água que me sacia 
e me incendeia 
testemunho seu poder de seduzir 
Deusa Maceió 
invado sua maldita reclusa 
reclusa que detona o viço 
e me engalfinho em seu esconderijo 
por suas peças íntimas 
e intumescido e cheio me afogo 
bebo o seu rio 
mordo a sua carne 
sou seu canibal, índia pura 
seu corpo baila no meu Albertville 
achega-me, sua chama me domina 
a mira, o alvo, tonta e dança 
mais dança meu coraçãoa dança do ventre de Sheyla Matos 
quando pudesse estimar o meu extermínio 
e ela vem tão indomável quanto santa a se despir 
– um pênalti na pequena área do meu coração 
e ela vem bulindo, dinamitando meus sonhos 
a se dissolver em mim com meu dedo na boca 
e despejo a minha vida 
e engole o meu sêmen no centro do feitiço 
viúva alada, dorso febril 
e a febre ae a cintura 
roço-lhe o esfíncter até Grafemberg 
na sua nudez Carolina Ferraz 
na penumbra andente do seu ser 
o seu gemido me extasia no movimento sensual 
de Margret, de Durga, de Rachel 
das tres uma de cabelos lisos 
em seu tamanho menor da geografia colada no vestido curto 
no Delicate Sounds of Thunder 
faz valer minha fantasia e desmaia 
oh! coreografia do prazer 
bundinha vai-e-vem, viúva bela 
minha tenda de Maria Brown 
me enlaça e me diz que sou a camisa dez do seu coração 
me espera que contarei das aventuras ao me reabilitarem entre os vivos 
e reinarei sobre sua volúpia 
e derramarei meu esperma 
e saltarei fundo na paixão 
vou dormir nos seus olhos com toda a minha agonia 
de ilha encantada e cantarei a linda canção de J.Alfredo Pruckfork 
e será lindo acordar com você do lado 
 
A mulher jaz ao meu lado 
depois de um xeque mate no xadrex de Middleton 
sua meiguice sem pudor 
no dever de sermos o protótipo dos deuses 
me acuda, são juras sinceras de um porta vário e um verso lascivo 
amar não faz mal a ninguém 
e ensaio versos pros seus olhos 
faço cantigas pro seu jeito, raínha minha, raínha nua 
sequer suspeita que eu já morria enrubescido e despudorado 
com a cara e a coragem peculiares aos enamorados 
cadê você? Pedi tanto prá São Lunguinho lhe encontrar 
logo jamais deixarei partir 
amando com voragem até saber o feitiço do cogumelo de Alice 
que me rasga e me cura 
e com todo ímpeto eu espero sem medo, viúva 
espero ver-lhe o talhe, a alma 
anestesiado na moita 
repousando às suas coxas 
na noite roxa, olhos revirando 
no gemido de estar gozando o prazer extremo 
o átimo, o ápice da minha jugular aberta 
minha aorta infecta de ser feliz deste lado 
e do seu lado, viúva, para a mulher que jaz agora aqui comigo. 
 
  
	
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